Tales Bernardes / Tecnologia no Campo

As principais doenças metabólicas em Vacas Leiteiras durante o período de transição são a hipocalcemia e a acetonemia (mais conhecida como cetose), edema de úbere, deslocamento de abomaso e retenção de placenta.

Dentre essas, a Cetose, e a Hipocalcemia, ambas em suas formas subclínicas, tem sido as doenças mais recorrentes em rebanhos leiteiros, principalmente nos sete primeiros dias após o parto e no pico de produção, gerando grandes perdas.

A maioria das doenças metabólicas em Vacas Leiteiras ocorre durante as duas primeiras semanas de lactação. Foi relatado que quase 25% das vacas deixam os rebanhos durante os primeiros 60 dias de lactação.

Após o parto, os requisitos em energia devido à produção de colostro aumentam drasticamente, enquanto a ingestão de matéria seca é reduzida.

A glândula mamária nos primeiros quatro dias pós-parto aumenta a sua demanda em glicose (3 vezes), aminoácidos (2x) e ácidos graxos (3x) quando comparado ao útero aos 250 dias de gestação. O descompasso entre a ingestão e demanda de nutrientes gera um balanço energético negativo por várias semanas após o parto.

Desafios da Cetose No Período de Transição.

A cetose é uma das principais doença metabólica em vacas leiteiras, frequentemente observada em rebanhos de alta produção, ocorrendo, normalmente, dentro de poucos dias à poucas semanas após a parição.

Para esse artigo, foram utilizadas pesquisas canadenses (Tatone et al., 2017) publicadas no Journal of Dairy Science, e Brasileiras (Corassin, C. H. et. al., 2011) a primeira, resultados de um estudo observacional de 3.042 rebanhos de Ontário, para estimar os fatores de risco para cetose em vacas leiteiras, e na segunda foram utilizadas 522 vacas Holandesas, para estimar efeitos das ocorrências sanitárias ao periparto e seus respectivos fatores de risco sobre a produção de leite.

A cetose foi diagnosticada como β-hidroxibutirato (βHBA) de leite ≥ 0,15 milimoles por litro (mmol/L) no primeiro teste de associação de melhoramento de rebanho leiteiro quando testado nos primeiros 30 dias no leite.

A concentração sanguínea de β‐hidroxibutirato (βHBA), o principal corpo cetônico nos ruminantes, reflete a gravidade e duração do balanço energético negativo, sendo um importante indicador do desenvolvimento das patologias pós‐parto.

Com base em vários trabalhos, a incidência de cetose clínica pode alcançar de 2% a 15%, e a de cetose subclínica, de 9% a 34%, sobre os rebanhos.

Qualquer fator que resulte na redução da ingestão de matéria seca (IMS) aumenta o risco de cetose, o que ocorre naturalmente no periparto devido ao estágio avançado da gestação, bem como às mudanças metabólicas que ocorrem nesse período.

Os estudos utilizados, relataram os seguintes fatores de risco associados com à cetose no periparto:

Sazonalidade:

Os resultados do estudo, desenvolvido pelo IRTA em colaboração com a Elanco Animal Health, demonstraram que o risco de uma vaca padecer de cetose é cerca de 41% maior em vacas que parem durante o verão.

Raça:

A raça Jersey teve mais de 1,46 vezes mais chances de sucumbir à cetose do que a raça Holandesa.

O número de lactações:

Para multíparas, maior número de dias secas e maiores intervalos entre partos, para as primíparas, maior idade ao primeiro parto aumentaram as chances de cetose no primeiro teste.

A produção de gordura no leite:

Produção maior ou igual à 1.22 kg por dia, no último teste realizado na lactação anterior, foi associada à diminuição da chance de cetose na lactação atual (OR: 0,56).

Metrite primária e secundária:

Isto se deve pelo fato dos animais doentes, acometidos por metrites, estarem sujeitos a menor ingestão de matéria seca, consumindo suas próprias reservas corporais, sendo mais susceptíveis a cetonúria.

O escore de condição corporal (ECC):

Um ECC elevado na parição é um importante risco para cetose, sendo que vacas com ECC ≥ 4,0 apresentam níveis elevados de corpos cetônicos circulantes no plasma e maior risco de desenvolver cetose clínica e subclínica quando comparadas com vacas classificadas com ECC moderado ou baixo.


Hipocalcemia Sub-Clínica No Período de Transição

A hipocalcemia subclínica, como qualquer distúrbio subclínico, não apresenta sintomas, porém é muito mais frequente que o quadro clínico.

Alguns rebanhos chegam a taxas superiores a 75% de animais hipocalcêmicos, portanto a hipocalcemia clínica é somente a “ponta do iceberg” dentro das doenças metabólicas.

Animais hipocalcêmicos tem três vezes mais chance de desenvolver retenção de placenta, nove vezes mais chance de ter mastite por coliformes, e tem suas chances aumentadas em nove vezes de desenvolver um quadro de cetose.

Essas doenças quase via de regra, não estão sozinhas, uma vez que podem desencadear outras doenças metabólicas.

Pesquisadores da Universidade Cornell estimaram os fatores de risco associados à hipocalcemia subclínica (HSC) em vacas leiteiras. Usando dados de dois rebanhos leiteiros de Nova York, os autores (Neves et al., 2017) realizaram um estudo coorte incluindo 301 animais.

A hipocalcemia subclínica foi definida como concentrações de cálcio ≤ 2,1 mmol/L Ca, com base em amostra de sangue coletada em até quatro horas após o parto.

A prevalência global de HSC ao parto foi de 2%, 40% e 66% para a primeira, segunda, ou terceira parição, respectivamente.

O estudo foi publicado no Journal of Dairy Science e relatou os seguintes fatores de risco associados com ter HSC no parto:

O número de lactações:

Vacas de terceira lactação, ou maior, foram 70% mais propensas a ter HSC do que as vacas de segunda lactação.

A hipocalcemia no pós-parto tem correlação com a idade, tornando-se marcante a partir da 3ª lactação. Assim sendo a ocorrência na 1º lactação incomum.

Esse aumento no risco de sofrer hipocalcemia é associado com a diminuição da capacidade para mobilizar cálcio dos ossos e possivelmente uma redução do número de receptores de 1,25-dihidrocolecalciferol no intestino.

Nível sanguíneo de Ca no Pré-parto:

Vacas multíparas com níveis de cálcio no sangue ≤ 2,4 mmol/L no período pré-parto foram 40% mais propensos a ter HSC no pós-parto do que as vacas com concentrações de cálcio> 2,4 mmol / L.

Raça:

Investigações demonstram que certas raças bovinas são mais suscetíveis à hipocalcemia puerperal, particularmente Channel Island, Swedish Red e White, Norwegian e vacas Jersey (Lean et al., 2006).

Vacas Jersey possuem 15% menos receptores para vitamina D no intestino, quando comparadas com vacas da raça Holandesa, dificultando a absorção de cálcio após o parto.

Antibióticos:

A administração endovenosa de certos aminoglicosídeos, especialmente a neomicina, estreptomicina e gentamicina, podem causar uma redução no grau de ionização do cálcio no soro e levar a uma síndrome similar a hipocalcemia puerperal.


Curiosamente, a concentração plasmática de magnésio pré-parto não foi associada ao HSC ao parto. Além disso, os autores descobriram que as vacas subclínicas hipocalcêmicas ao parto tiveram um risco aumentado (3,2 vezes) de ter HSC aos dois dias no leite. Isso sugere que as vacas podem transmitir o estado hipocalcêmico pelo menos nos dois primeiros dias pós-parto.

A hipocalcemia traz vários prejuízos econômicos devido aos distúrbios metabólicacausados por ela, estima-se que um animal com hipocalcemia subclínica traga um prejuízo em média por volta de US$ 125,00 por animal.