Fungos e bactérias são fundamentais para a manutenção das funções do solo, estando envolvidos em processos essenciais como a formação da estrutura do solo, decomposição da matéria orgânica e ciclagem de nutrientes.
A preocupação com o meio ambiente, o aumento da demanda por alimentos mais orgânicos e as dificuldades encontradas no controle químico de algumas doenças de culturas importantes tem provocado um aumento na busca de novas tecnologias ecologicamente mais apropriadas e sustentáveis por parte dos produtores.
Por isso, vemos um aumento na utilização de Trichoderma nas culturas, afinal o seu uso reduz a aplicação de defensivos agrícolas e, consequentemente, os danos causados por eles à saúde humana e ambiental. Dessa maneira, contribuindo com a saúde e sustentabilidade da produção agrícola nacional.
O que é Trichoderma?
Trichoderma é um gênero de fungos de característica filamentosa, comumente chamado de mofo ou bolor, de crescimento rápido e que produz colônias de coloração esverdeada. Pode ser encontrado em praticamente todos os tipos de solos, embora mais frequentemente em solos de regiões de clima temperado e tropical.
Este gênero possui mais de 200 espécies conhecidas e é frequentemente utilizado em indústrias de alimentos, têxtil, papel, farmacêutica, química e, mais recentemente, na produção agrícola, melhorando o crescimento e a produtividade de diversas culturas.
Esses organismos se alimentam de matéria orgânica morta ou em processo de decomposição, ajudando na deterioração de resíduos vegetais e animais. Depois de decompostos, retornam ao solo e servem de alimentos para as plantas. São encontrado no interior de uma planta, durante parte da sua vida, sem aparentar causar doença a esta. Isto ocorre, pois ele compete com os patógenos presentes, colaborando para que as plantas permaneçam saudáveis.
O Trichoderma também atua contra outros fungos que representam ameaça para diferentes espécies de plantas, tornando-se um importante agente biológico para agricultura, controlando doenças de pelo menos 14 culturas diferentes como: soja, algodão, milho, café, hortaliças e fruticultura.
Quais tipos de doenças de planta o Trichoderma controla?
Aquelas doenças causadas por fungos de solo, que infectam raízes, base de caules e o sistema vascular das plantas, causando podridão e murchas. Exemplos: Verticillium, Phytophthora, Pythium, Sclerotinia, Fusarium, Sclerotinia, entre outros.
Algumas espécies são recomendadas para controle de patógenos causadores de lesões e podridões em caules, folhas, flores e/ou frutos. Exemplo: Botrytis cinerea (mofo cinzento em morangos e plantas ornamentais).
Estas doenças são consideradas as principais causadoras da redução da produtividade das plantas cultivadas ao redor do mundo, contudo são poucas as vezes que elas recebem a devida atenção do produtor.
Por afetarem principalmente as raízes, o controle desses microrganismos é difícil, afinal eles evoluíram com as planta por milhões de anos e estão altamente adaptados ao ambiente de solo e às plantas cultivadas. Por isso, alguns deles são capazes de sobreviver anos no solo, impossibilitando o cultivo de certas plantas em algumas regiões do Brasil.
Quais são os mecanismos de ação utilizados no controle de patógenos em plantas?
O Trichoderma pode utilizar de até 4 mecanismos para controlar os patógenos nas plantas, são eles:
1 – Competição:
O patógeno e o antagonista (trichoderma) disputam os mesmos recursos, alimento e espaço, para sobreviver, ou seja, essa competição no solo ou na raíz pode impedir que a infecção do patógeno, que está presentes no solo, entre em contato com a planta.
2 – Antibiose:
O antagonista produz substâncias que inibem o crescimento ou a reprodução do fitopatógeno na planta ou no ambiente.
3 – Parasitismo:
O antagonista se alimenta do patógeno, enfraquecendo ou matando.
4 – Indução de resistência:
Algumas linhagens de Trichoderma aplicadas de forma preventiva, antes do contato do patógeno com a planta, podem agir como uma “vacina” contra diversos tipos de fitopatógenos (vírus, bactérias e fungos). Isso ocorre porque as barreiras criadas pela planta para evitar a entrada de microorganismos indesejados não são específicos para apenas um tipo.
É importante ressaltar que a Trichoderma não é uma cura e sim uma atuação preventiva. A sua aplicação deve ser realizadas antes que a doença apareça ou se alastre pela plantação.
Em alguns casos, pode ser aplicado depois da ocorrência da doença para diminuir a concentração das estruturas infectadas do patógeno que permanecem no solo em estado de dormência. Assim, no próximo ciclo de cultivo haverá uma redução no número de plantas doentes.
Esse caso é muito utilizado no controle do mofo branco da soja, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, dos quais os escleródios (massa compacta de hifas entrelaçadas que apresenta estrutura dura e resistente, de forma e tamanho variável) permanecem em repouso no solo por cerca de 10 anos.
Assim, sempre que o local infectado é semeado com plantas suscetíveis (soja, algodão, feijão e girassol) e as condições ambientais estão favoráveis, o patógeno “acorda” e volta a causar grandes prejuízos ao produtor. Neste caso, recomenda-se que os produtos à base de Trichoderma sejam aplicados na palhada.
Em quais culturas o Trichoderma ajuda?
Os produtos à base de Trichoderma podem ser aplicadas em diversas culturas, tais como soja, milho, feijão, morango, hortaliças, ornamentais, etc. Entretanto, as doses variam de acordo com o produto comercial utilizado, já que cada um possui uma composição específica, seja na linhagem ou na concentração. Além disso, o tipo de cultura, forma de tratamento e doença a ser tratada também influenciam no controle.
Na cultura da soja, por exemplo, a Trichoderma pode ser utilizada no controle da podridão radicular, causada por fungos como Fusarium spp. e Rhizoctonia solani, por isso, é recomendado o tratamento das sementes. A dica é: sempre utilize a dose recomendada pelo fabricante, pois o aumento ou diminuição da quantidade recomendada pode reduzir a eficiência do produto ou prejudicar alguma fase da cultura.