A presença de carrapatos nos rebanhos bovinos representa um grande desafio aos pecuaristas brasileiros, já que eles podem comprometer severamente a vida dos animais e, consequentemente, o bolso do produtor. Esse parasita é responsável por um prejuízo anual estimado em R$ 10 bilhões na pecuária mundial.

No Brasil, a espécie que mais atinge as criações é o carrapato-de-boi, um ácaro tropical muito presente em todo o território nacional. Estudos mostram que a infestação moderada por esse carrapato causa a perda de uma arroba de carne por ano, gerando um grande impacto na economia da cadeia produtiva de gado de corte no país.

Devido a esse cenário, saber como esse parasita atinge os animais, assim como as técnicas para controlar sua presença nos rebanhos é muito importante para evitar perdas nas produções. Dessa forma, continue a leitura do nosso artigo para manter sua criação de gado sempre saudável e livre de carrapatos!

O que é o carrapato-de-boi?

O carrapato-de-boi ou carrapato bovino é o nome popular dado ao Boophilus microplus, a principal espécie de carrapato que afeta os rebanhos bovinos no Brasil. Esse artrópode pode causar severas perdas na produtividade na pecuária, tanto de carne quanto de leite.

O nível de infestação do carrapato bovino nas criações muda de acordo com a presença de algumas raças específicas. Assim, sabemos que as zebuínas são mais resistentes ao parasita, em comparação com o gado Holandês e outras raças europeias, que possuem um sangue mais propício à infestação do carrapato.

Como ocorre o ciclo evolutivo desse carrapato?

As grandes infestações causadas pelo carrapato bovino se devem principalmente pelo ciclo biológico desse parasita. Dessa forma, saber um pouco sobre como esse invasor se desenvolve e reproduz é importante para um bom manejo no seu controle.

Esse carrapato tem um único hospedeiro durante toda a sua vida parasitária, o que significa que, a partir do momento em que ele chega até o bovino, ele ficará lá até o fim do seu ciclo de vida. Dentro do corpo do animal, ele passa por três metamorfoses.

Sabendo disso, o carrapato-de-boi fica na ponta das folhas das pastagens nas horas frescas do dia, esperando o bovino passar para “pular” em seu corpo. Após isso, ele rapidamente invade o vaso sanguíneo do animal, onde começa a se alimentar.

Durante o ciclo, a fêmea pode produzir até quatro mil ovos, que originam os micuins, as larvas do carrapato. Além disso, o macho dessa espécie fecunda várias fêmeas ao mesmo tempo, o que aumenta ainda mais a capacidade de infestação.

O ciclo evolutivo desse parasita tem duração de cerca de 22 dias, e sabemos que fatores como clima quente e úmido, com presença de chuvas, podem facilitar o seu desenvolvimento. No entanto, sua ocorrência acontece durante todo o ano, acarretando diversos prejuízos ao produtor agropecuário, que veremos a seguir.

Quais prejuízos esse parasita pode causar?

A infestação do carrapato bovino pode prejudicar grandemente a vida do rebanho. Isso acontece porque, como se trata de um parasita hematófago, ou seja, que se alimenta com sangue, pode haver uma perda constante de sangue do animal, levando o bovino à anemia. Em bezerros, esse fator pode causar até a morte.

Além disso, esse parasita gera um processo alérgico que causa irritabilidade e um incômodo severo no animal, impedindo-o de se alimentar adequadamente, com consequente perda da produtividade. Essas alergias também podem gerar feridas no rebanho, que são porta de entrada para outras infecções por parasitas e bactérias.

O carrapato-de-boi também é transmissor de babesia bovis, babesia bigemina e anaplasma marginali, que são parasitas de hemácias que podem causar a Tristeza Parasitária Bovina — TBP. Trata-se de uma doença com alta incidência de morte, que afeta principalmente bezerras em fases de desmame e pós-desmame.

Por fim, pode haver o comprometimento do uso do couro após a morte do animal. Isso acontece porque as famosas bicheiras (miíase) são consequência da alta infestação do carrapato bovino, incapacitando o uso do couro do gado na indústria.

Além dos danos diretos que são prejudiciais à bovinocultura brasileira, existem aqueles indiretos. Entre eles, estão os custos da mão-de-obra para o combate desse parasita, assim como despesas relacionadas à compra de equipamentos, carrapaticidas, entre outros.

Como fazer o controle do carrapato-de-boi?

O problema do parasitismo não tem uma solução definitiva, no entanto, o uso de algumas práticas pode controlar essa situação nos rebanhos. Esse controle deve ser feito tanto em regiões que sofrem com altas infestações do carrapato-de-boi, quanto em áreas afetadas somente em algumas épocas do ano. Sabendo disso, existem duas alternativas para o controle: fora do hospedeiro e sobre o hospedeiro.

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Controle fora do hospedeiro

O controle do carrapato bovino fora do animal pode ser feito através de técnicas como a rotação de pastejo, que consiste na retirada dos bovinos da pastagem, até que grande parte das larvas seja eliminada por causas naturais. Além disso, a implantação de lavouras, com objetivo de recuperação de pastagens, auxilia no controle indireto do parasita pela ausência de animais na área.

Também pode ser feita a introdução de espécies de gramíneas com poder de repelência ao carrapato, como por exemplo o capim-gordura, o capim-andropogon e o capim-elefante, que podem até mesmo matar esses parasitas. Por fim, o uso de agentes biológicos é uma alternativa que ainda está em estudo para o controle desses artrópodes.

Controle sobre o hospedeiro

O combate do carrapato-de-boi sobre o hospedeiro pode ser feito através do uso de raças bovinas resistentes, por meio do cruzamento entre raças e a seleção das que possuem menos sensibilidade ao parasita. Também pode ser usada a vacina biológica GavacÒ, que apresenta resultados satisfatórios com redução de até 65% do número de carrapatos nos rebanhos.

Além disso, pode ser feito o uso de carrapaticidas, a opção mais utilizada entre os produtores no controle desse parasita. A escolha da marca, juntamente com o uso correto, que inclui as concentrações e a frequência adequada para o animal, são fatores essenciais para garantir o sucesso no tratamento e evitar a resistência dos carrapatos aos químicos.

Existem diversos carrapaticidas disponíveis no mercado, como por exemplo os organofosforados, as formamidinas, os piretroides e as avermectinas. A aplicação desses produtos pode ser feita por meio de pulverização, imersão, dorsal ou injetável, no caso das avermectinas. Cabe ressaltar que, para utilizar esses químicos, é necessário orientação técnica adequada para evitar a contaminação dos animais, trabalhadores e meio ambiente durante o seu uso.

Como vimos, o carrapato-de-boi pode gerar diversos prejuízos nos rebanhos bovinos, indo desde o mal estar do animal até sua morte, causando perdas drásticas na produção. Portanto, siga nossas dicas para evitar que sua criação sofra com a presença desse parasita invasor. Além disso, confira também nosso texto sobre acaricidas para saber como usar esses químicos da forma certa no controle desse e de outros ácaros na sua fazenda.