João Fowler | Tecnologia no Campo
A calagem é o procedimento adotado para corrigir a acidez do solo e mantê-lo nas condições de pH ideais para que a solução do solo contenha os nutrientes essenciais para o crescimento das plantas.
Calagem: A evolução genética das cultivares é notável, principalmente após a adoção de técnicas de transgenia, obtendo cultivares resistentes a doenças, ataque de pragas e maior capacidade de produtividade.
Contudo, o potencial genético somente será expressado se houver uma boa qualidade de manejo.
Já citamos aqui as diferenças que a aplicação de agroquímicos e a agricultura de precisão podem fazer para melhorar a sanidade e nutrição das culturas.
Há, no entanto, outro fator essencial para um bom desenvolvimento das culturas: a calagem e correção de acidez do solo.
Preparamos esse post especial para nossos leitores. Aqui veremos:
- O que é calagem?
- O que torna os solos ácidos?
- Por que fazer a calagem?
- Como interpretar os dados e fazer a correção
- Tipos de calcário e critérios para escolha
- Como aplicar
O que é a calagem?
A calagem é o procedimento adotado para corrigir a acidez do solo e mantê-lo nas condições de pH ideais para que a solução do solo contenha os nutrientes essenciais para o crescimento das plantas.
A grande maioria das culturas se desenvolvem na faixa de pH de 5,5 a 7,0. Quando o valor do pH é inferior a 5,5, ocorre um aumento da disponibilidade de elementos tóxicos para as plantas, como o alumínio, que impede o desenvolvimento das raízes.
Dessa forma, manter o solo em pH neutro ou próximo desse valor médio favorece a disponibilidade de nutrientes fundamentais (sódio, cálcio, magnésio, potássio, etc) na solução do solo, garantindo boa nutrição das plantas.
Vale lembrar que quanto menor é o pH, maior é a acidez.
O que torna os solos ácidos?
A acidez do solo é causada, basicamente, pelos seguintes motivos:
1. Adubação nitrogenada
A adubação nitrogenada é fundamental para o crescimento das culturas. Excetuando-se as leguminosas e o processo de fixação biológica de nitrogênio por bactérias diazotróficas, a adubação nitrogenada é intensa na maioria das culturas, como milho e pastagens.
E os produtos utilizados na adubação (fertilizantes, estercos) possuem ou formam amônia (NH₃), que, ao ser convertida em nitrato (nitrificação), liberam íons de hidrogênio, que acidificam o solo.
Dessa forma, quanto maior a adubação, maior a tendência de acidificar o solo.
2. Chuvas
A união da água da chuva com dióxido de carbono produz um ácido fraco (ácido carbônico), que ioniza, liberando carbonato e íons hidrogênio, acidificando o solo.
3. Outros fatores
A decomposição de matéria orgânica e formação de hidróxido de alumínio também favorecem a acidificação do solo pela formação de íons de hidrogênio em seus processos.
Além disso, o processo de intemperismo e envelhecimento natural dos solos também provoca acidificação.
Por que fazer a calagem?
Conforme fora visto, o principal objetivo da calagem é a correção de acidez do solo. E os principais benefícios da manutenção de um pH neutro são os seguintes, de acordo com o professor Dr. Gaspar H. Korndörfer, da Universidade Federal de Viçosa:
- Menor disponibilidade de alumínio e manganês na solução do solo, elementos tóxicos em condições de acidez.
- Favorecer o desenvolvimento de microorganismos que degradam matéria orgânica e liberação de nitrogênio, fósforo e enxofre.
- As bactérias fixadoras de nitrogênio, inoculadas no plantio de soja, por exemplo, possuem um pico de atividade ideal na faixa de pH de 6,0 a 6,2.
- Aumento da disponibilidade de fósforo e molibdênio.
Como fazer a calagem?
O procedimento para a realização da calagem inicia-se com a amostragem de solo, realização de análise laboratorial e posterior interpretação dos dados contidos na análise das camadas de solo amostradas (0-10 cm e 10-20 cm).
Os dados utilizados para o cálculo de adubação e calagem são as médias das camadas amostradas.
Os principais pontos a serem observados são a saturação por bases (V%), a CTC (capacidade de troca catiônica), teor de alumínio, teor de argila e a relação cálcio/magnésio que são:
Saturação por bases (V%)
A Saturação por bases é um bom indicativo da fertilidade do solo. Um valor alto de saturação por bases (acima de 50%) indica que há níveis elevados de bases trocáveis, como cálcio, magnésio e potássio.
Solos com valores inferiores a 50% provavelmente terão alta acidez e teores de alumínio a níveis tóxicos para as plantas.
CTC
A CTC indica a capacidade das partículas do solo reterem os nutrientes na solução. Solos com baixa CTC devem ser adubados e corrigidos aos poucos por terem baixa capacidade de “retenção” desses nutrientes, havendo grande lixiviação.
A CTC total é a soma de bases trocáveis (cálcio, magnésio e potássio) mais hidrogênio e alumínio. A CTC efetiva é a soma de bases trocáveis e os teores de alumínio.
Para o cálculo de calagem, considera-se a CTC total.
Teor de alumínio
O teor de alumínio é o indicativo da presença desse nutriente no solo. Também permite obter a saturação por alumínio, que significa a proporção de alumínio na CTC.
Teor de argila
A medida do teor de argila é o indicador utilizado para verificar se o solo é argiloso ou arenoso.
Em condições de solos arenosos (teor de argila ≤ 350 g.Kgˉ¹), para a maioria das culturas (soja, milho, algodão, feijão e trigo), considera-se um V% desejado de 50%.
Caso o solo seja argiloso (teor de argila ≥ 360 g.Kgˉ¹), considera-se, para as mesmas culturas, um V% desejado de 70%, exceto trigo (60%)
Relação Ca/Mg
Essa é a medida da relação dos teores de cálcio e magnésio determinarão qual o tipo de calcário será utilizado na calagem.
Analisando todos os dados obtidos, avalia-se quais serão os parâmetros desejados para a correção.
Cálculos para aplicação da calagem
O cálculo de necessidade de calagem mais realizado leva em consideração a saturação por bases e a CTC total e é obtido pela seguinte fórmula:
Onde:
V₂: saturação por bases desejada
V₁: saturação por bases atual
CTC: capacidade de troca catiônica total (soma de bases, alumínio e hidrogênio)
O resultado obtido indica quanto de calcário (toneladas por hectare) que deve ser aplicado com um PRNT de 100%, exigindo, portanto, o cálculo da quantidade de acordo com o PRNT do calcário disponível através de uma regra de 3 inversa.
Classificação do calcário
De acordo com o Manual de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas da COAMO/CODETEC (3ª edição) o calcário utilizado pode ser classificado de acordo com seu poder relativo de neutralização total (PRNT) e sua composição.
Uso do calcário quanto ao PRNT
O PRNT é uma forma de classificação que considera sua composição química (equivalente de Carbonato de Cálcio) e sua eficiência agrícola de acordo com a granulometria do produto.
Quanto maior o PRNT, menor a quantidade a ser aplicada para neutralizar a acidez do solo.
São classificados em:
- Calcário Tipo A: PRNT entre os valores de 45 – 60%
- Calcário Tipo B: PRNT entre os valores de 60,1 – 75%
- Calcário Tipo C: PRNT entre os valores de 75,1 – 90%
- Calcário Tipo D: PRNT com valores acima de 90%
Uso do calcário quanto sua composição química
Esta classificação leva em consideração os teores de óxido de cálcio e óxido de magnésio no produto.
São classificados em:
Tipo | MgO % | CaO % | Quando usar |
Calcítico | ≤ 5 | ≥ 40 | Relação Ca/Mg estreita e Mg em nível alto e maior que Ca |
Magnesiano | 5 – 12 | 30 – 40 | Ca e Mg abaixo do nível alto independente da relação Ca/Mg |
Dolomítico | > 12 | 25 – 30 | Relação Ca/Mg estreita e Mg abaixo do nível alto; Ca no nível alto |
Tipo | MgO % | CaO % | Quando usar |
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Calcítico | ≤ 5 | ≥ 40 | Relação Ca/Mg estreita e Mg em nível alto e maior que Ca |
Magnesiano | 5 – 12 | 30 – 40 | Ca e Mg abaixo do nível alto independente da relação Ca/Mg |
Dolomítico | > 12 | 25 – 30 | Relação Ca/Mg estreita e Mg abaixo do nível alto; Ca no nível alto |
Fonte: COAMO/CODETEC
Distribuição e incorporação do calcário (calagem)
Após a realização da análise de solo, interpretação e cálculo da quantidade a ser aplicada, é importante definir a forma de aplicação.
A ação do calcário é pontual, logo, a uniformidade de aplicação é fundamental para homogeneizar a calagem, o que também torna interessante a adoção de agricultura de precisão para otimizar esse processo.
O calcário pode ser distribuído com auxílio de caminhões com caçamba ou tratores com cochos. No sistema de plantio direto já instalado, a plantadeiras equipadas com facão ou escarificador são úteis para incorporar o calcário em profundidade.
Em sistema de plantio convencional ou na calagem realizada antes da instalação do sistema de plantio direto, a incorporação do calcário deve ser realizada com:
- Arados de disco e de aiveca quando em quantidades superiores a 5 toneladas por hectare.
- Grade aradora e escarificador em quantidades inferiores a 3 toneladas por hectare (COAMO/CODETEC).